The English Patient, Titanic, Shakespeare in Love, American Beauty, Gladiator, A Beautiful Mind, Chicago, Lord of the Rings, Million Dollar Baby e Crash, nos últimos 10 anos os vencedores do Oscar para melhor filme. É já neste Domingo (ou segunda-feira, dependendo do ponto de vista) que ficaremos a conhecer, a partir do Kodak Theatre em Los Angeles, qual a película que terá a oportunidade de se juntar a estes e outros títulos fantásticos que, ao longo dos 87 anos corridos desde a primeira cerimónia, têm vindo a construir a história do cinema.
Apesar de eu estar à espera dos primeiros Oscars apresentados pelo Sr. Conan O’Brien (talvez em 2009 ou 2010, depois de ele estar bem instalado em LA no seu Tonight Show), John Stewart fez um bom trabalho na última edição e, portanto, fiquei com a iDeia que seria para repetir em 2007… Estava enganado. Desta feita é Ellen DeGeneres que vai liderar as hostes na Noite das estrelas, a mais esperada do ano nos Estados Unidos coincidindo com uma das maiores transmissões televisivas a nível mundial (teremos delay este ano?). E para conduzir tudo graciosamente, carregando a noite de boa disposição, confio plenamente na Ellen, mais do que habituada a estar entre a “gente” do cinema, por exemplo, com entrevistas no seu show, que demonstra uma força qualitativa surpreendente para um programa da manhã.
Estando asseguradas todas as condições para que tenhamos uma festa bem sucedida, sigo de imediato para o que verdadeiramente interessa, a materialização da arte que nos apaixona: os filmes.
À data de hoje, pelos meus registos, vi 52 títulos (exactamente um por semana… curioso) estreados no ano transacto, elegíveis, portanto para receberem uma das tão aliciantes estatuetas douradas. Não foi, contudo, e como já vem sendo normal, um ano cheio de grandes filmes.
Por todo o mundo há cada vez menos gente a ter a ida ao cinema como hábito e, assim sendo, os grandes estúdios apostam em produções gigantescas com proveitos previsivelmente garantidos mas sacrificando, muitas vezes, a qualidade, em favor de maus (mas bonitos) actores e ainda piores (mas fáceis de compreender) argumentos, capazes de apelar ao grande público através de uma ou duas explosões e, quem sabe, uma ou outra cena de nudez (não necessariamente relevante(s) para a história).
Ainda assim, nem é tudo mau. Com a consolidação deste cenário passou a dar-se muito mais atenção ao cinema independente, como comprovam, por exemplo, a vitória de Crash em 2006 e a presente nomeação de Little Miss Sunshine, uma das muitas com que concordo, apesar de haver, no meu ponto de vista, várias injustiças que tentarei evidenciar de seguida, com a análise às principais categorias, cujos nomeados tive a oportunidade de ver, quase na totalidade, à excepção de Marie Antoinette, Monster House, Notes on a Scandal e The Good German (se entretanto um deles me conquistar, certamente que virei aqui reflectir as respectivas alterações).
Notas de 1 a 10 segundo esta legenda:10 – Excelente
9 – Muito bom
8 – Bom
7 – Positivo
6 – Medíocre
(e, não que para aqui seja preciso, mas…)
5 – Mau, com algum nível de profissionalismo
4 – Muito mau, com algum nível de profissionalismo
3 – Péssimo, com algum nível de profissionalismo
2 – Muito mau, com muito pouco profissionalismo
1 – Péssimo, com muito pouco profissionalismo
Best Motion Picture of the Year
A minha escolha
Letters from Iwo Jima (10)
Decisão difícil esta. Para mim, houve, em 2006, três filmes a atingir a excelência, cada um na sua categoria. Para além deste, que considero o melhor, também Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest e The Prestige mereceram nota máxima.
Acabei por me decidir pelo segundo capítulo da saga de Iwo Jima, brilhantemente liderada por Clint Eastwood. As razões? Muito simples. Não consegui achar nada de mau a apontar. Excelente realização, muitos e bons actores, com a acção a desenrolar-se num ambiente espectacularmente genuíno. Para além da perfeição técnica, a história é muito boa, fazendo-nos acompanhar a batalha, sob o ponto de vista Japonês, com a dicotomia Humanidade/Nacionalidade, brilhantemente explorada, através do General e de um mero soldado, cujos destinos se vão cruzando ao longo das quase duas horas e meia de filme.
Sozinho é um dos melhores filmes do séc. XXI e pode retirar-se uma ainda melhor experiência vendo primeiro a prequela, Flags of our Fathers: o ponto de vista americano. Em suma, uma película que fica na história e cuja visualização é absolutamente imprescindível para qualquer fã do bom cinema.
Os injustiçados
The Prestige (10) – Até ter visto o Letters from Iwo Jima, aquele que eu considerava o filme do ano, com o qual Christopher Nolan, de 37 anos, se confirma como um dos melhores realizadores/argumentistas da actualidade, depois de Memento e Batman Begins.
A história centra-se em dois ilusionistas rivais na perseguição cega pela supremacia de um em relação ao outro. Com Hugh Jackman e Christian Bale nos principais papeis, estamos perante o filme mais surpreendente em muitos anos (talvez desde Memento), com final muito difícil de prever e que nos prende a atenção de uma forma constante, através de uma boa realização, cenografia muito acima da média mas, e, sobretudo, de um argumento de altíssima qualidade, brilhantemente adaptado pelos irmãos Nolan a partir do livro de Christopher Priest.
Justificava, sem dúvida, a nomeação nesta categoria e, se ainda não viram, é imperativo que o façam assim que surja a oportunidade (O DVD está para breve).
Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest (10) – Depois do sucesso de 2003, havia grandes expectativas para este regresso do Captain Jack Sparrow e seus seguidores. As minhas foram claramente superadas, com duas horas e meia de pura diversão, conciliando isto com a arte do bom cinema, utilizando os, agora tão apetecíveis, efeitos gerados por computador em quantidades correctas e nas situações adequadas.
Uma viagem deslumbrante pelo mundo da fantasia dirigida, mais uma vez, por Gore Verbinski e escrita, de uma forma muito inteligente, por Ted Elliot e Terry Rossio. Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley continuam bem, ajudando este brilhante “Piratas” a tornar-se no “porcorn movie” por excelência. Um filme para todos e que, precisamente por isso, dificilmente mereceria a atenção da Academia, como se veio efectivamente a verificar.
Apocalypto (9) – Em duas palavras: clássico instantâneo. Mesmo daqui a cem anos continuar-se-á a ver esta obra-prima de Mel Gibson, como prova do bom cinema que se fez no século XXI. Não há muitos termos de comparação para um filme como este pois vai muito mais além de tudo aquilo que já tinha sido feito.
Seguindo um jovem membro de uma tribo que personifica toda a força da natureza, Apocalypto é visualmente deslumbrante. Com realização de grande nível e actores desconhecidos mas perfeitos para os papéis que desempenham este é um filme que, apesar de eu não concordar com algumas opções tomadas na conclusão da história (da autoria de Mel Gibson e Farhad Safinia), justificava reconhecimento nesta edição dos Oscars, com nomeações nesta categoria e na de melhor filme em língua estrangeira…
É pena que os responsáveis por estas escolhas sobreponham a opinião politica/comportamento social dos autores à qualidade dos filmes.
Os (restantes) nomeados
Babel (8) – Começo já por dizer: Babel é um bom filme. Ainda assim, parece-me que a sua nomeação, em detrimento de filmes como os que apresentei acima, é exagerada. Apresentando quatro histórias mais ou menos ligadas, espalhadas por vários pontos do mundo, este título é-nos trazido pela mesma dupla de 21 grams, Alejandro González Iñárritu e Guillermo Arriaga, responsáveis pela realização e argumento, respectivamente. A narrativa segue de uma forma muito bem arquitectada e editada, com o storyline japonês a ser o meu preferido. Ainda assim, a verdade é que muitos momentos podiam ter sido melhor explorados, de forma a contribuir inequivocamente para a mensagem interessante que se pretende transmitir.
De qualquer maneira, através das excelentes prestações do elenco, cintilantes, a espaços (como provam duas nomeações que analisarei mais à frente), este Babel é um dos grandes filmes de 2006, ainda que, reafirmo, não considere muito justa a sua inclusão no lote dos cinco nomeados.
The Departed (8) – Um sólido thriller com o mundo do crime em pano de fundo, repleto de muitos actores consagrados, que contribuem com grandes actuações para a realização de Martin Scorsese, bem ao seu estilo. Ainda assim, esta concretização do argumento de William Monahan, não é a melhor das obras do realizador norte-americano, a quem o Óscar vai escapando há já alguns anos. Mais uma vez, The Departed é um bom filme mas, na minha opinião, não o suficiente para merecer a estatueta mais cobiçada.
Little Miss Sunshine (9) – Dos nomeados, o meu segundo favorito, atrás das Cartas de Iwo Jima. Um filme independente que acompanha uma família disfuncional norte-americana na sua determinada aventura para levar a membro mais nova a participar num concurso de beleza, ainda que esta não seja a típica concorrente em eventos dessa natureza.
Com o objectivo de apelar a um público mais vasto, a película foi publicitada, no grande mercado, praticamente como sendo “mais uma” comédia. Ainda que retenha alguns bons momentos a este associados, Little Miss Sunshine está muito para lá do género cómico, com um dramatismo subliminarmente presente em todas as cenas, muito por culpa do esforço que foi posto em dotar cada personagem de uma personalidade fortíssima, bem definida e completamente distinta das outras, possibilitando uma interacção espectacularmente bem delineada pelo argumentista (Michael Arndt) e pelos realizadores (Jonathan Dayton e Valerie Faris) e ainda melhor interpretada pelo elenco.
Se houvesse o Oscar para Best Ensemble Cast, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Toni Collette, Steve Carell e, claro, Little Miss Sunshine herself, Abigal Breslin iriam todos para casa com um cavaleiro dourado. É um filme extraordinário, uma pérola que muito me apraz ver devidamente representada nos prémios da Academia. Recomendado a todos.
The Queen (8) – Sem dúvida um grande filme, que assenta muito na brilhante interpretação de Helen Mirren do excelente argumento de Peter Morgan, como Rainha Isabel II. A realização de Stephen Frears é de topo, ajudando, também a transformar este título num dos mais sólidos e bem executados a estrearem no ano transacto.
Como devem saber, a história tenta reflectir a reacção da família real britânica à morte de Diana em 1997, explorando as dificuldades da Rainha em lidar com a situação e em comunicar com o, então recém-eleito, Tony Blair (bem interpretado por Michael Sheen).
Trata-se de uma boa biografia cinematográfica que, segundo muitos britânicos, ilustra bem a personalidade da sua chefe de estado, recomendado a quem se interessar pelo assunto e tiver uma ideia do que se passou há 10 anos no seio da família real britânica.
Menção Honrosa
Casino Royale (9) – Bond está de volta, melhor do que nunca. Não tenho dúvidas em afirmar que Daniel Craig é o melhor 007 de sempre e que este seu primeiro filme é um dos melhores títulos de acção de todos os tempos.
Flags of Our Fathers (9) – Esquecido nas nomeações, é um excelente filme que conta a história por detrás de uma das mais famosas fotografias da história dos Estados Unidos. É a prequela perfeita para a obra-prima Letters from Iwo Jima, na mesma brilhantemente realizada por Clint Eastwood e que retrata a batalha sob a perspectiva americana.
Children of Men (9) – Uma visão futurista quase perfeita, não fossem as imperfeições no final da história. Ainda assim, com um argumento muito interessante, um ambiente sem precedentes na história do cinema (muito ao estilo de Half-Life 2, o jogo) este é um dos meus filmes preferidos de 2006, um dos que mais prazer me deu ver.
Little Children (9) – Ao contrário de Babel, aqui tudo foi muito bem explorado. Uma história de paixão pouco convencional que se encerra nisso mesmo, estendendo tentáculos a várias problemáticas da vida humana, desde as primárias até às mais modernas. Sem dúvida, um dos bons apontamentos cinematográficos do ano, que, sinceramente, pensei vir a ser reconhecido pela Academia.
Lucky Number Slevin (9) – Um filme que passou despercebido a muita gente. Insere-se nas mesmas categorias de The Departed, sendo, na minha opinião, superior.
The Da Vinci Code (9) – A adaptação ao cinema, deu a conhecer, a todos os que não têm o hábito da leitura (onde me incluo-o, apesar de estar precisamente agora a ler este livro), a controversa história de Dan Brown. Muita gente ficou desapontada. Eu não conhecia a história e gostei bastante. Anseio, portanto, pelo Angels & Demons, versão cinematográfica do livro com mesmo nome, da autoria do norte-americano.
Venus (9) – Um filme que vi após saber da nomeação de Peter O’Toole e que me surpreendeu. Não fossem alguns problemas de realização, levava nota máxima. História excelente, cenas inconfortáveis para alguns mas, sem dúvida, um belo filme. This is what movies are all about.
El Laberinto del Fauno (9) – de que falarei mais à frente, quando abordar o Oscar para melhor filme em língua não inglesa.
Best Performance by an Actor in a Leading Role
A minha escolha
Peter O’Toole em Venus (9)
Este histórico actor conta com mais de 80 filmes no seu currículo, é a sua oitava nomeação para um Oscar nesta categoria. Nunca ganhou, apesar de em 2003 lhe ter sido dada uma estatueta honorária sob o mote de que o seu talento deu, à história do cinema, algumas das suas personagens mais memoráveis. É verdade que muitos anos passaram desde Lawrence of Arabia, em 1962, título que lhe valeu a primeira nomeação, mas, ainda assim, e não tendo visto muitos filmes dele, parece-me ser em Venus que Peter O’Toole se apresenta no seu melhor de sempre.
Interpretando o papel de Maurice, um reformado inglês que desenvolve uma relação inesperada com a sobrinha de um amigo, O’Toole faz-nos pedir a nós próprios para que o filme nunca acabe, tal não é a perfeição com que encarna a personagem… Quero explicar melhor, acreditem… mas não sou capaz: só vendo. Apesar de também concordar com a escolha dos outros nomeados, todos com prestações brilhantes, creio que é mesmo Peter O’Toole quem merece a última distinção.
O injustiçado
Johnny Depp em Pirates of the Caribbean: Dead Man’s Chest (10) – Sinceramente, não consigo perceber como esta nomeação não foi feita, por troca, talvez, com Ryan Goslin ou Will Smith. Se fosse nomeado, seria o meu segundo favorito, atrás do supracitado Peter O’Toole.
A forma como Depp interpreta a personagem, o pirata Jack Sparrow, valeu-lhe a nomeação em 2004, aquando do primeiro filme e até por isso, não se compreende a sua ausência da lista de 2006, visto que, neste segundo filme, esteve ainda muitos furos acima. Espero que ele não se importe muito e que toda a equipa dos “Piratas” tenha feito um bom trabalho para a conclusão da saga, a estrear mundialmente em Maio próximo.
Os (restantes) nomeados
Leonardo DiCaprio em Blood Diamond (8) – Para liderar um bom filme, uma grande prestação, ainda melhor do que a já respeitável presença em The Departed. Só não é a sua interpretação mais brilhante porque há uns anos foi um extraordinário Howard Hughes.
Ryan Goslin em Half Nelson (8) – O professor/treinador Dan Dunne, a contas com o vício da droga, estabelece uma relação muito forte com uma sua aluna de apenas 13 anos. Ryan Goslin está muito bem e torna a sua personagem credível, possibilitando que este pequeno filme se torne em algo de especial.
Will Smith em The Pursuit of Happyness (8) – Um filme (baseado numa história verídica) que me surpreendeu pela sua profundidade emocional, para mim inesperada, e que muito deve à grande interpretação de Will Smith, no papel de Chris Gardner, o seu melhor melhor desde Ali.
Forest Whitaker em The Last King of Scotland (8) – Mais um dos bons filmes de 2006, que este actor norte-americano co-protagoniza espectacularmente, interpretando um Idi Amin assustadoramente genuíno. Performance fascinante, completamente merecedora do Oscar, caso este não vá para o veterano O’Toole.
Menção Honrosa
Ken Watanabe e Kazunari Ninomiya em Letters from Iwo Jima (10) – Se o primeiro já é muito conhecido dos amantes do cinema Ocidental, Kazunari foi uma revelação. Ambos compõem o par que protagoniza o melhor filme do ano, tendo prestações excelentes, bem passíveis de merecerem a nomeação.
Best Performance by an Actress in a Leading Role
A minha escolha
Helen Mirren em The Queen (8)
Perfeito. Absolutamente perfeito. Não há qualquer tipo de contestação em relação a quem merece vencer nesta categoria, não obstante as outras nomeadas também terem estado em grande plano. Daqui a umas décadas, vai ser com este filme e com esta interpretação que os jovens de todo o mundo vão ter o primeiro contacto com essa figura simbólica da história dos nossos tempos, chefe de estado do Reino Unido, Canadá, Austrália e mais uns quantos países… sua alteza, Helen Mirren, que, curiosamente até já recebeu, este ano, dois Globos de Ouro por interpretar os papéis de Rainha Elizabeth I e II.
As (restantes) nomeadas
Penélope Cruz em Volver (8) – Num bom filme, uma senhora que revelou ser uma excelente actriz. A trabalhadora, carinhosa, mas destemida, Raimunda, deu a oportunidade a Penélope de produzir a sua melhor interpretação desde que saltou para a ribalta. Para nós, portugueses, é especialmente interessante vê-la neste filme, dado que a personagem que interpreta podia muito bem ser nossa compatriota, com o factor proximidade a dar-nos uma sensação de familiaridade e empatia imediatas.
Judi Dench em Notes on a Scandal(-) – Não vi.
Meryl Streep em The Devil Wears Prada (7) – Meryl Streep. Muito bom, claro. That’s all.
Kate Winslet em Little Children (9) – A minha favorita, atrás da “Rainha”. Tenho pena que Little Children tenha saído no mesmo ano que The Queen… Sinceramente. A interpretação de Sarah Pierce está realmente ao nível de Kate Winslet, o mais alto possível. Com apenas 31 anos e já com cinco nomeações, posso dizer que esta inglesa é uma das minhas actrizes preferidas. Mesmo que não ganhe, não tenho dúvidas de que vai continuar o bom trabalho e de que muitas mais nomeações se vão seguir.
Best Performance by an Actor in a Supporting Role
A minha escolha
Djimon Houson em Blood Diamond (8)
Desde que o descobri em In America, Djimon Houson tem estado limitado a pequenos papéis. Tudo mudou com Blood Diamond e creio que, apesar de este ter muito mais atributos, só por causa da prestação deste natural do Benin, vale a pena assistir ao filme. Ao longo da história, Solomon, avança por uma aventura repleta de acção mas suportada por uma carga dramática que Djimon transporta para o ecrã de uma maneira exemplar.
O injustiçado
Jack Nicholson em The Departed (8) – Mais uma vez, o meu segundo favorito não foi nomeado. Incompreensivelmente, pois, por exemplo, nesta mesma categoria, o seu colega de filme, Mark Wahlberg (que esteve, ainda assim, bem), foi nomeado por uma prestação que considero inferior.
É espectacular ver Jack Nicholson em acção. Pode ter perdido alguma da versatilidade de outros tempos, mas para uma personagem como Frank Costello, o veterano actor de New York é perfeito, encantando-nos com a sua expressividade e experiência. Já tem três Oscars… bem que podia ter levado aqui o quarto, caso tivesse sido nomeado.
Os (restantes) nomeados
Alan Arkin em Little Miss Sunshine (9) – Mais um histórico que perfaz, assim, um total de três nomeações, sendo que já não era nomeado desde 1969. Alan Arkin é o avô pouco convencional da Little Miss Sunshine, tendo feito uma excelente interpretração, ao nível do que o argumento pedia. Inteiramente justa esta nomeação.
Jackie Earle Haley em Little Children (9) – A seguir às de Houson e Nicholson, para mim, a terceira melhor prestação do ano. O papel de molestador era bom, mas nada fácil de interpretar com efectiva solidez e qualidade. Haley fê-lo e esta é mais uma boa razão para não perder Little Children, um grande filme.
Eddie Murphy em Dreamgirls (8) – Um filme de que gostei, apesar de não ser um grande fã de musicais. Eddie Murphy regressa às produções de qualidade em bom plano, interpretando exemplarmente uma personagem carismática, muito importante para a história, sem me ter, no entanto, conquistado o suficiente para me convencer de que merece este Oscar.
Mark Wahlberg em The Departed (8) – O melhor de sempre de Mark Wahlberg, com uma personagem forte e decidida. Ainda assim, volto a repetir, não se percebe a sua presença, em detrimento de Jack Nicholson.
Best Performance by an Actress in a Supporting Role
A minha escolha
Abigail Breslin em Little Miss Sunshine (9)
Há uns meses, Dustin Hoffman dizia, falando desta pequena Abigail: “She delivered one of the best performances… ever.” Eu subscrevo. Com apenas 11 anos de idade (a completar no próximo dia 14 de Abril…), não é possível prever qual vai ser o futuro desta jovem no mundo do cinema. Esperemos que continue a evoluir as suas qualidades, tomando as decisões certas para que a sua carreira possa perdurar.
Impossível é, contudo, ficar indiferente à sua prestação em Little Miss Sunshine… É daquelas que custa explicar, de tão perfeita e genuína que é. Só vendo é que se pode sentir a ligação única que se forma entre a pequena Olive e o espectador. Se houver justiça, esta menina vai ter um brinquedo novo, a partir de Domingo à noite.
As (restantes) nomeadas
Adriana Barraza em Babel (8) – Comovente e impressionante. O melhor de Babel. Se o Oscar for para casa desta mexicana, também fica bem entregue.
Cate Blanchett em Notes on a Scandal (-) – Não vi.
Jennifer Hudson em Dreamgirls (8) – Não ganhou o American Idol? Ainda bem. Está encontrada uma bela actriz e que se sente como peixe na água neste musical de qualidade. Também neste caso, Jennifer Hudson é o melhor de Dreamgirls, colocando-se como a minha segunda favorita na corrida a este Oscar.
Rinko Kikuchi em Babel (8) – Protagoniza a melhor das histórias de Babel. Quando o filme acabou, o que desejei de imediato foi que tivesse sido feito um outro, explorando só e unicamente a vida da surda-muda japonesa. Rinko esteve muito bem e espero vê-la mais vezes em filmes de grande exposição.
Best Achievement in Directing
A minha escolha
Clint Eastwood por Letters from Iwo Jima (10)
Quase perfeita. É o comentário que tenho a fazer à realização de Clint Eastwood em ambos os filmes que abordam a batalha de Iwo Jima. Sendo, sem dúvida o maior candidato à vitória (pelo menos, na minha opinião), ele é, também o injustiçado desta categoria, por não ver reconhecido o seu trabalho em Flags of Our Fathers.
Talvez a personalidade viva mais emblemática na história do cinema, Clint evoluiu de bom actor para excelente realizador, mantendo ainda intacto e mais refinado o dom da representação. “Não pares!”.
Os (restantes) nomeados
Stephen Frears por The Queen (8) – Sem dúvida merecida, esta nomeação premeia o excelente trabalho desenvolvido por este inglês na concretização deste projecto de sucesso. Como já havia dito acima, realização de topo no meu terceiro favorito nesta categoria.
Paulo Greengrass por United 93 (7) – Boa realização. Nada de transcendente, num projecto que eu considero ter sido mal abordado, visto que resultou mais num documentário do que num filme dramático que pretendia ser.
Alejandro González Iñárritu por Babel (8) – Mais uma justa nomeação. Meu segundo favorito, o criador de extraordinários momentos em Babel, que, só tenho pena, não ter, talvez, a solidez de argumento necessária para o transformar num dos melhores filmes de sempre… E daí… terá estado o problema no realizador? Só lendo o argumento…
Martin Scorsese por The Departed (8) – Mais um trabalho muito bom de Martin Scorsese mas, desta vez, não merece ganhar. Não foi o seu melhor… Ou somos nós que estamos mal habituados? A verdade é que a concorrência é forte e a única hipótese de Scorsese ir para casa com este Oscar é se a Academia decidir (erradamente, nestas circunstâncias) premiar a sua carreira.
Best Writing, Screenplay Written Directly for the Screen
A minha escolha
Little Miss Sunshine por Michael Ardnt (9)
Acho que já disse muito acerca da qualidade deste argumento. Ainda assim, hesitei entre Little Miss Sunshine e Letters from Iwo Jima. Acabei por escolher este, visto que nasce única e exclusivamente da visão de um homem, sem ter registos históricos para influenciar a história.
Recupero o que já acima disse, quando falava deste filme, por forma a caracterizar o fantástico argumento da autoria deste estreante.
“Com o objectivo de apelar a um público mais vasto, a película foi publicitada, no grande mercado, praticamente como sendo “mais uma” comédia. Ainda que retenha alguns bons momentos associados ao género, Little Miss Sunshine está muito para lá do género cómico, com um dramatismo subliminarmente presente em todas as cenas, muito por culpa do esforço que foi posto em dotar cada personagem de uma personalidade fortíssima, bem definida e completamente distinta das outras, possibilitando uma interacção espectacularmente bem delineada pelo argumentista.”
Em suma, a maior surpresa do ano, o melhor argumento do ano.
Os (restantes) nomeados
Babel (8) por Guillermo Arriaga – A iDeia é boa, a concretização podia ser melhor. A mim, pessoalmente, parece-me que o argumento tem falhas ao nível da conclusão da narrativa e da interligação de histórias. Ainda assim não posso efectivamente afirmar que a culpa é de Guillermo Arriaga, pois não li o seu trabalho. Ainda assim, creio que se aceita como justa esta nomeação.
Letters from Iwo Jima (10) por Iris Yamashita e Paul Haggis – Extraordinário. Paul Haggis volta à “cena do crime”, depois de Crash, Million Dollar Baby, num ano em que também esteve envolvido em Flags of Our Fathers, Casino Royale, entre outros. Aqui, com a co-autoria de uma história humana em tempo de guerra, reforçando bem o ponto de vista japonês da batalha de Iwo Jima, através dos olhos de dois militares em postos bem diferentes. Tem tudo o que podíamos pedir e, se ganhar o Oscar, é também um justo vencedor.
El Laberinto del Fauno (9) por Guillermo del Toro – História de fantasia fascinante. Um dos filme que mais gostei em 2006 e que assenta muito, para além da espectacular cenografia, no forte argumento deste mexicano.
The Queen (8) por Peter Morgan – Excelente visão da fragilidade que se tornou evidente no seio da família real britânica, imediatamente após a morte de Diana. Um dos grandes candidatos à vitória. Contra a minha vontade, é certo, mas penso que será o vencedor nesta categoria.
Best Writing, Screenplay Based on Material Previously Produced or Published
A minha escolha
Children of Men (9) por Alfonso Cuarón, Timothy J. Sexton, David Arata, Mark Fergus, Hawk Ostby
2027. A raça humana é incapaz de se reproduzir. O milagre acontece, há que proteger a primeira mulher grávida em quase vinte anos. A adaptação, para o grande ecrã, da obra de P.D. James, com o mesmo nome, não foi fácil, como prova a existência de cinco autores deste argumento.
Ainda assim, o cenário criado, toda a envolvente social retratada, toda a espectacular acção (com uma sequência final absolutamente fantástica, diferente e muito melhor do que algo que alguma vez tinha sido feito) juntam-se para tornar emocionante o acompanhamento que vamos fazendo da personagem interpretada por Clive Owen, cuja relação com os animais é apenas um dos pequenos pormenores que fazem este filme tão rico.
Eu não li o livro, mas estou certo de que foi bem aproveitado para fazer um filme de grande qualidade e que recomendo a todos.
Os (restantes) nomeados
Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan (7) por Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Peter Baynham, Dan Mazer, Todd Phillips – Não gosto deste género de humor. Ainda assim, tenho que reconhecer um facto: esta equipa fez um bom trabalho.
The Departed (8) por William Monahan – Muito bom: boa história, boa adaptação, é o meu terceiro favorito, um sólido argumento.
Little Children (9) por Todd Field e Tom Perrotta – Fiquei apaixonado por este argumento que depois foi brilhantemente interpretado e realizado. É bem capaz de ter sido o filme que mais me tocou em 2006. Fugindo aos standards a que estamos habituados, esta história acaba por nos surpreender, fazendo transparecer várias mensagens de uma forma clara e pertinente. Excelente trabalho… Se ganharem, também fico feliz.
Notes on a Scandal (-) por Patrick Marber – Não vi.
Best Animated Feature Film of the Year
A minha escolha
Cars (9)
Só vi dois e não tenho dúvidas. Cars é o melhor. Excelente filme, repleto de boa disposição. A história é boa, a animação por computador é do melhor que já vimos, as vozes são muito bem emprestadas por estrelas bem conhecidas (Gostei muito de ouvir o Jeremy Piven a repetir o seu papel de Entourage).
É notável o processo de humanização que a Pixar impôs aos automóveis. Todos os pormenores estão lá, transformando este num dos melhores filmes de animação de sempre.
Os (restantes) nomeados
Happy Feet (7) – Pinguins jeitosos, bons momentos musicais, uma hora e meia bem passada. Nada mais do que isso. Não merece o Oscar.
Monster House (-) – Não vi.
Best Foreign Language Film of the Year
A minha escolha (dos nomeados, o único que vi)
El Laberinto del Fauno (9)
Uma princesa de um mundo da fantasia, reencarna na Espanha fascista de Franco, na pele de uma menina, filha adoptiva de um Capitão violento e sem escrúpulos. Por intervenção de uma fada, entra em contacto com um Fauno, guardião da sua passagem de regresso às origens. Antes disso, de voltar, a pequena Ofelia tem de passar alguns testes para se certificar de que a sua alma não foi corrompida…
Será isto fruto da imaginação de uma criança… ou uma inesperada realidade? O filme é-nos apresentado num ambiente extraordinário, visualmente apetecível e com um toque de ingenuidade, contrastante com momentos de dura violência, constituindo um hino ao cinema fantástico. Absolutamente a não perder.
Os injustiçados
Apocalypto (9) – Se não foi nomeado para melhor filme. É absolutamente inaceitável que não faça parte da corrida a este Oscar.
Letters from Iwo Jima (10) – Porque penso que um nomeado para prémio de melhor filme, caso seja em língua não inglesa, deve também ser nomeado nesta categoria, como já aconteceu com Wo hu cang long (O Tigre e o Dragão).
Para as restantes categorias passo, somente, a apresentar os meus favoritos:
Best Achievement in Cinematography
Children of Men (9) por Emmanuel Lubezki
Best Achievement in Editing
Babel (8) por Douglas Crise e Stephen Mirrione
Best Achievement in Art Direction
Pirates of the Caribbean: Dead Man’s Chest (10) por Rick Heinrichs e Cheryl Carasik
Best Achievement in Costume Design
The Devil Wears Prada (7) por Patricia Field
Best Achievement in Music Written for Motion Pictures, Original Score
Babel (8) por Gustavo Santaolalla
Best Achievement in Music Written for Motion Pictures, Original Song
Dreamgirls (8) Henry Krieger e Siedah Garrett("Love You I Do")
Best Achievement in Makeup
Apocalypto (9) por Kevin O'Connell, Greg P. Russell e Fernando Câmara
Best Achievement in Sound Editing
Flags of Our Fathers (9) por Alan Robert Murray, Bub Asman
Best Achievement in Visual Effects
Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest (10) por John Knoll, Hal T. Hickel, Charles Gibson e Allen Hall
Best Documentary, Features
An Inconvenient Truth (9)
Best Short Film, Animated
No Time for Nuts
E pronto, o ano cinematográfico está analisado, os dados estão lançados. Alguns concordarão com as minhas opiniões… Outros nem tanto, e por isso conto com comentários e acusações. Amanhã à noite deixemo-nos é conquistar por esta festa impar no mundo da arte: a entrega dos prémios da Academia.
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