Anos depois, outro dia 11, outro avião, outro edifício, talvez outra Nova Iorque. Custa-me transpor para texto as emoções e sentimentos que se têm (eu tive-os e não tenho dúvidas de que não fui o único) nos instantes em que se toma conhecimento de uma noticia como a da passada quarta-feira. Não tendo quaisquer conhecimentos ao nível da psicologia ou de outra qualquer ciência humana que se possa aplicar nesta situação, parece-me óbvio que desde o dia 11 de Setembro de 2001 alguma coisa mudou dentro de nós.
Os atentados terroristas contra os Estados Unidos de há 5 anos trouxeram ao mundo ocidental, pela primeira vez em muitos anos, o medo generalizado. Terrorismo deixou de ser uma palavra associada a grupos com fins muito bem definidos, a cenários por vezes bastante distantes… Desta vez não eram atentados na Faixa de Gaza nem tão pouco uma explosão da ETA numa estância de férias… Os alvos atingidos pela Al-Qaeda eram como que símbolos da invulnerabilidade e superioridade sentidas pela grande maioria da população das nações “ocidentais”.
Na semana em que ficámos a saber que a Coreia do Norte fez testes nucleares, aparece-nos também esta notícia, a de que uma aeronave embateu um arranha-céus de habitação em NY, pilotada por um conhecido jogador de basebol, Cory Lidle. Depois de afastada a hipótese de se tratar de um atentado, o que salta à vista é, sem dúvida, a cobertura mediática dada, recordando sempre os choques do passado, misturando-os com o rescaldo deste infeliz acidente, voltando a suscitar os receios que nunca chegam a estar bem adormecidos.
A imprensa é, inequivocamente, uma das maiores armas do terrorismo, amplificando à escala global todas as acções que se possam enquadrar nessa categoria. Quando algo é tentado, por exemplo, contra cidades dos EUA ou do Reino Unido, de imediato se monta um espectáculo mediático à volta do assunto, que leva a que a recorrente referência e utilização de imagens associadas a atentados ocorridos num passado mais ou menos recente, contribua para a sustentação de um clima de insegurança.
É óbvio que se compreende a necessidade de informar, e longe de mim defender qualquer tipo de censura, mas a verdade é que necessário não é, com certeza, criar nas nossas consciências, como foi feito com esta situação do passado dia 11, mais picos de renovação do medo, que nos faz, por um lado, olhar o mundo com outros olhos, mas por outro, só pela sua existência, dar aos grupos terroristas uma das coisas que muitos deles pretendem: um instalado estado de terror colectivo.
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