domingo, março 11, 2007

A Mulher e o(s) seu(s) Dia(s), B.

Embora só em 1975 as Nações Unidas tenham decidido adoptar a data de 8 de Março, o dia Internacional da Mulher já conta com uma história de quase cem anos, tendo evoluído desde simbólicas 24 horas de protesto até um ao actual marco anual de homenagem aos progressos alcançados, enquadrado com a definição de um ponto de situação, relativos à (aparentemente inalcançável) igualdade entre sexos.

Em pleno século XXI, suposto tempo de modernidade, não só tecnológica, mas também, social, e mesmo com grande (a maior?) parte dos países a reconhecer teórica e constitucionalmente a uniformidade de direitos e deveres para homens e mulheres, a verdade é que, na prática, esta, de todo, não se verifica.

Tenho a noção de que quando, por cá, vem à baila a discriminação do sexo feminino, esta está, quase invariavelmente, associada a incidentes localizados em zonas do globo distantes, subindo à memória colectiva a imagem das afegãs envergando a sua burqa. Sendo este um exemplo gravíssimo, encerra em si uma das mais assustadoras e repugnantes características do ser humano, tornando-nos fácil de compreender o constrangimento que a discriminação levada ao extremo pode provocar nas vítimas… Digo “pode” pois, para muitas cidadãs afegãs, indianas ou paquistanesas, o uso da burqa é apenas mais um aspecto integrante da sua cultura que aceitam e abraçam sem contestação.

É precisamente aí que reside a questão chave desta problemática. A herança cultural que constitui um entrave à mudança da consciência colectiva, resignando vítimas deste e de muitos outros tipos de violência. Portugal (e o “mundo desenvolvido”) coloca-se como apenas mais um caso que confirma esta regra, não totalmente diferente, transportando para a nossa sociedade, do exemplo dos países subdesenvolvidos que referi acima.

Como de costume, preferimos olhar para fora e confiar na distância geográfica dos problemas, ignorando a nossa inquietante realidade: em Portugal, a nível social e profissional, a discriminação do sexo feminino existe e é muito mais grave do que pode parecer à maioria.

Enraizada na nossa cultura continua a iDeia de que a mulher, “por omissão”, está destinada a ficar em casa e arcar com todas as responsabilidades que a construção e manutenção de uma família acarretam… Embora tenha a percepção (e a esperança) de que esta situação já esteja a mudar com a minha geração, choca-me e perturba-me que se continue a viver com este estigma familiar que muito poucas pessoas ousam por em causa.

Os progressos são, obviamente, inegáveis e, hoje em dia, vemos, por exemplo, mais mulheres a ingressar no ensino superior, a competir profissionalmente, de igual para igual, com o sexo oposto e, nesse sentido, tudo parece bem encaminhado, até ao momento em que paramos para analisar os salários: uma senhora recebe, em média, menos 25% do que um homem, colocando-se nos 5% a diferença média relativa a duas pessoas que trabalhem na mesma empresa, no mesmo posto, com as mesmas funções… enfim, cuja única diferença é o sexo…

Agora, pergunto eu: alguém acha isto aceitável? Obviamente, alguém tem de achar, para que situações como estas se verifiquem. São exactamente essas pessoas que têm a obrigação de mudar de opinião, de operar uma lavagem de consciência que permita que a igualdade entre homens e mulheres se torne numa realidade efectiva, em vez daquela utópica que vai permanecendo idealizada na constituição.

Cabe a instituições como a União Europeia, o governo dos Estados Unidos ou a ONU influenciar e patrulhar os países menos desenvolvidos, para que neles os direitos humanos sejam respeitados. A nós, cabe-nos, tentar corrigir a situação no nosso meio social envolvente, agindo activamente no dia-a-dia, porque todos são dias para lutar em nome de uma humanidade não discriminatória.

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