domingo, fevereiro 24, 2008

80th Academy Awards

Mais um ano passou e estamos agora a poucas horas de conhecer os vencedores dos Oscars referentes ao ano cinematográfico de 2007. Ao contrário do que muita gente diz, não creio que este ano tenha sido muito superior ao anterior, quando fazemos uma análise global ao estado da sétima arte. Mantém-se a inundação dos cinemas por parte das histórias recauchutadas e dos verdadeiros insultos à inteligência sob a forma de comédias ou filmes de acção que não são mais do que uma tentativa desesperada de fazer algum dinheiro, concentrando-se numa faixa etária muito nova, acabando por retirar muito público das salas de cinema. Num outro plano, 2007 também foi desapontante por responsabilidade de algumas sequelas que não fizeram jus ao franchise que representam, como as terceiras instâncias de Shrek e Pirates of the Caribbean.

Problemas à parte, houve, como em todos os anos, muitos bons filmes, vários muito bons e alguns absolutamente extraordinários. É esse cinema de qualidade que devemos aproveitar para celebrar hoje, no dia em que terá lugar a cerimónia mais esperada do ano nos Estados Unidos. Desta feita, a Noite das Estrelas vai ser novamente conduzida pelo Jon Stewart, pelo que devem estar garantidas algumas horas bem agradáveis, à semelhança do que aconteceu em 2006, quando o apresentador do Daily Show se estreou nos Oscars.

Antes de prosseguir com a minha análise a cada uma das principais categorias, tenho de deixar uma palavra para os escritores, os autores das histórias que nos fascinam e entretêm durante todo o ano, tanto no grande como no pequeno ecrã. A sua greve esteve perto de por em causa a realização da cerimónia de hoje mas, felizmente, tudo se resolveu, em favor dos grandes responsáveis pelos elementos (por ventura) mais importantes de um filme: a história, os diálogos e a forma como estes se sucedem.

De seguida, vou dar a minha opinião acerca dos melhores filmes do ano, por cada categoria. À data de hoje vi 57 filmes elegíveis para esta edição dos Oscars. Entre eles estão quase todos os nomeados, com algumas excepções que vou realçar quando se tornar relevante, tendo sempre em conta que as minhas escolhas podem vir a ter alterações no futuro, à medida que for vendo mais alguns filmes do ano cinematográfico de 2007, o qual passo, então, a analisar.

Notas de 1 a 10 segundo esta legenda:
10 – Excelente
9 – Muito bom
8 – Bom
7 – Positivo
6 – Medíocre
5 – Mau, com algum nível de profissionalismo
4 – Muito mau, com algum nível de profissionalismo
3 – Péssimo, com algum nível de profissionalismo
2 – Muito mau, com muito pouco profissionalismo
1 – Péssimo, com muito pouco profissionalismo

Best Motion Picture of the Year

A minha escolha

There Will Be Blood (10)

Um clássico imediato. Apenas três filmes de 2007 mereceram a nota máxima, além desta obra-prima de Paul Thomas Anderson, Juno e The Bourne Ultimatum, dos quais falarei mais à frente. Apesar de tudo, a decisão para esta categoria não foi muito difícil.

Depois do magnífico Magnolia e de Punch-Drunk Love, PTA regressou em grande com uma obra de arte a roçar a perfeição. A todos os níveis, este filme é um portento. Desde a realização de excelência ao argumento de enorme qualidade, passando pela banda sonora e pela cenografia que criam ambiente espectacular, There Will Be Blood suga-nos do primeiro ao último minuto com a história de Daniel Plainview, um “oil man” da Califórnia nos inícios do século XX, com uma personalidade de ferro, muito peculiar e que colocará a personagem na história do cinema para a eternidade.

O desempenho dos actores é de alto nível e, para quem já viu, não posso deixar de destacar a última cena do filme como algo de absolutamente magnífico, um dos melhores finais de que me lembro e que reflecte de forma genial, com apenas duas personagens, durante alguns minutos, a essência do protagonista e concluindo em grande o retrato que o filme pretende fazer.

Resta-me dizer que quem ainda não viu esta película deve fazê-lo o mais rapidamente possível, pois será recompensado com uma experiência que perdurará na memória por muitos e bons anos.

O injustiçado

The Bourne Ultimatum (10) A conclusão perfeita para uma das melhores trilogias da história do cinema. É assim que todos os filmes de acção deviam ser. Brilhantemente realizado e com um argumento muito interessante consegue captar-nos a atenção durante todos os seus 115 minutos.

Um filme de acção inteligente e que não cai nos lugares-comuns que tanto têm massacrado este género cinematográfico. Foi escrito, entre outros, por Tony Gilroy, também autor do Michael Clayton e é uma tremenda injustiça que não esteja nomeado para melhor filme em vez deste. Recomendado a todos os fãs do bom cinema e, sem dúvida, um dos três melhores filmes do ano.


Os (restantes) nomeados

Atonement (9)Magnífico filme que nos deixa a pensar durante muito tempo, mesmo depois de ter terminado. Trata-se de uma nomeação mais do que justa e conta a história de uma escritora Briony Tallis, desde a sua infância, sempre mostrando consequências de uma atitude que tomou aos 13 anos e que haveria de mudar para sempre a sua vida e a de outras duas pessoas.

A história é muito boa e o filme conta com brilhantes interpretações da jovem Saoirse Ronan, de James McAvoy e de Keira Knightley. Embora reconheça que pode não ser um filme que agrade a todos, principalmente à maioria do público mais novo, Atonement é, com toda a certeza um dos filmes do ano e o qual recomendo sem mais reservas.

Juno (10)Para mim, depois de There Will Be Blood, este é o filme do ano. Uma comédia como as todas as comédias deviam ser. Juno é um “filme inteligente”, com ambições bem definidas e com um argumento extraordinário, da autoria de Diablo Cody e o qual comentarei mais em detalhe na categoria respectiva.

Retrata a história de uma adolescente de 16 anos que engravida após uma noite anormal com o seu melhor amigo. À primeira vista não parece um ponto de partida muito bom para uma comédia, mas Juno também tem a sua carga dramática, à medida que vamos assistindo ao desenrolar da história e ao processo de formulação de decisões que a protagonista vai atravessando ao longo dos 96 minutos.

O filme conta com brilhantes actuações de Ellen Page e Michael Cera, devendo ser visto o mais rapidamente possível por toda a gente, sendo que não tenho receio de afirmar que se trata de um dos meus filmes preferidos de todos os tempos.

Michael Clayton (7)Um filme bem feito, bem realizado, com boas prestações dos actores mas que não me conquistou. A história não é má, mas, sinceramente, acho que devia ir mais além. O filme acaba por se arrastar durante cerca de duas horas sem grandes pontos de interesse e com um final nada surpreendente.

Michel Clayton acompanha a história de um advogado muito especial, interpretado por George Clooney, que entra em cena quando é preciso resolver situações muito especiais. A narrativa centra-se nele e na sua intervenção num caso algo misterioso que acaba por à prova a sua lealdade e instinto de sobrevivência.

Não é um mau filme mas é o único que me parece estar a mais no lote dos 5 nomeados para a principal categoria dos Oscars.

No Country for Old Men (9) – Fargo é um grande filme mas acredito que este é mesmo o melhor trabalho de sempre dos irmãos Coen. No Country for Old Men é uma história de gato e do rato pouco convencional, que coloca um serial killer temível (interpretado brilhantemente por Javier Bardem) na peugada de um ex-militar norte-americano que vive calmamente na sua roulotte, até encontrar mais de 2 milhões de dólares de dinheiro da droga.

O filme agarra-nos de uma forma surpreendente e está muito bem realizado, com cenas espectaculares a sucederem-se durante muitos minutos. No Country for Old Men só não leva a nota máxima porque tive sérios problemas com o seu final, que se arrasta durante meia hora e que poderia ter sido feito de uma maneira mais simples e muito mais eficaz.

De qualquer maneira, é um grande filme, merece a nomeação e a atenção de todos os amantes do cinema.


Menção Honrosa

Into the Wild (9)História verídica muito interessante de um jovem que abandonou a sua família para dedicar dois anos ao contacto com a Natureza, experimentando muitas das coisas que a vida tem de bom. O maior problema é que acabou por não se preparar convenientemente, quer psicológica quer fisicamente. A adaptação foi muito bem feita e realizada por Sean Penn, naquele que é um dos filmes do ano, apesar de não ter sido muito publicitado.

Reign Over Me (9) Sinceramente, não percebo muito bem como é que se esqueceram deste filme. A história comovente de um homem sozinho, sem vida depois de ter perdido a sua família (Adam Sandler) que se vira para o seu antigo colega de universidade (Don Cheadle) numa tentativa de recuperação e reintegração na sociedade. Argumento de qualidade e boas prestações dos protagonistas fazem deste um filme muito bom e que deve ser visto e reconhecido por todos.

Le Scaphandre et le papillon (9) Mais uma fascinante história verídica, desta vez um filme francês que retrata a realidade do editor da Elle que sofreu, na década de 90 um AVC que o deixou totalmente paralisado. Depois do acidente, Jean-Dominique Bauby só conseguia mexer o olho esquerdo e foi através dele que, mesmo prisioneiro do seu corpo conseguiu escrever um livro (que dá título ao filme) em que conta a sua situação e os seus pensamentos. Tecnicamente muito bom, este filme merece ser visto pois trata-se, sem dúvida de uma obra de grande qualidade.

Best Performance by an Actor in a Leading Role

A minha escolha

Daniel Day-Lewis em There Will Be Blood (10)

Acho que nesta categoria não há muitas dúvidas. Com apenas três filmes nos últimos cinco anos, Daniel Day-Lewis parece escolher muito bem os seus projectos. Com There Will Be Blood acertou em cheio, proporcionando uma interpretação de enorme qualidade. Este Daniel Plainview, temível e decidido homem de negócios, vai certamente tornar-se num dos grandes ícones da história do cinema. O Oscar é mais do que merecido.

Os (restantes) nomeados

George Clooney em Michael Clayton (7) – Para mim, o melhor do filme. Esta personificação do advogado pouco convencional merece a nomeação e confirma que a carreira de Clooney está num belo caminho.

Johnny Depp em Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street (8)Sou um grande fã de Johnny Depp e gostei muito da sua prestação neste musical (mais um belo filme de Tim Burton), a qual me surpreendeu, especialmente durante as canções. É a terceira nomeação para Depp mas ainda não deve ser desta que leva a estatueta para casa.

Tommy Lee Jones em In the Valley of Elah (8)Neste thriller dramático, Tommy Lee Jones interpreta o papel de um pai que vê o seu filho, recém-regressado do Iraque, desaparecer em circunstâncias misteriosas. Tal como o filme, trata-se de uma prestação sólida e que merece a nomeação.

Viggo Mortensen em Eastern Promises (8)Filme de que gostei muito, sobre a máfia russa a operar no Reino Unido. Viggo Mortensen tem o papel de um condutor que acaba por ser muito mais do que isso… Não posso adiantar muito mais, mas recomendo que vejam o filme. Vale a pena e o americano de nome dinamarquês merece estar nesta festa.

Menção Honrosa

James McAvoy em Atonement (9) Perante o desafio de um papel multifacetado, este jovem escocês respondeu muito bem e prepara-se para ser uma das grandes estrelas de Hollywood a curto prazo.

Denzel Washington em American Gangster (8) Mais um bom filme de 2007 e mais uma grande prestação. Denzel Washington no seu melhor desde Training Day e não é preciso dizer mais nada.

Best Performance by an Actress in a Leading Role

A minha escolha

Julie Christie em Away from Her (8)

(Ressalvo o facto de não ter visto três dos filmes com actrizes nomeadas nesta categoria)

Julie Christie já ganhou este Oscar em 1966 pela sua interpretação de Diana Scott em Darling e arrisca-se agora, 42 anos depois a ganhar novamente. Em Away from Her é uma doente de Alzheimer que vai piorando ao longo do filme, obrigando a vários estados de alma e à representação de muitas emoções diferentes. Esta actriz nascida na Índia e já muito experiente, dá conta do recado de uma forma cintilante, tornando-se no principal foco de atracção do filme.

As (restantes) nomeadas

Cate Blanchett em Elizabeth: The Golden Age (-)Não vi.

Marion Cotillard em La Môme (-)Não vi.

Laura Linney em The Savages (-)Não vi.

Ellen Page em Juno (10)Brilhante. Já tinha apreciado muito a sua prestação em Hard Candy e agora, com Juno foi a confirmação de que Ellen Page é uma actriz brilhante e que está para ficar. Interpreta na perfeição o papel (muito difícil de ser representado com qualidade, sem cair na banalidade e sem exageros) que lhe foi confiado pelo excelente argumento de Diablo Cody.

Menção Honrosa

Helena Bonham Carter em Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street (8) Digo que é apenas uma menção honrosa mas só o faço por respeito às três nomeadas cujos filmes não vi. Helena Bonham Carter brilha muito neste filme em que interpreta uma pasteleira maquiavélica e ao mesmo tempo muito doce, numa combinação que resulta em pleno. Para mim, esteve ainda melhor do que Johnny Depp, merecendo a nomeação.

Best Performance by an Actor in a Supporting Role

A minha escolha

Javier Bardem em No Country For Old Men (9)

Um dos assassinos mais assustadores da história do cinema. Magnífica interpretação de Javier Bardem que consegue ilustrar muito bem aquilo que o argumento pedia. Depois de ver este espanhol em acção nunca mais vou olhar para uma garrafa de ar comprimido da mesma maneira.

Os (restantes) nomeados

Casey Affleck em The Assassination Of Jesse James by the Coward Robert Redford (7)Merece a nomeação, sendo que a sua prestação foi o que mais gostei no filme. Este foi definitivamente o ano da afirmação de Casey Affleck pois poderia muito bem ter sido nomeado também por Gone Baby Gone (um filme que acho superior a este e que é da autoria do seu irmão Ben).

Philip Seymour Hoffman em Charlie Wilson’s War (8)Mais uma nomeação que considero merecida. Hoffman é um dos meus actores preferidos e esteve muito bem neste filme (que também recomendo a todos, baseado numa história verídica – a entrega de armas por parte dos americanos aos afegãos para que pudessem combater os soviéticos), onde interpreta um rebelde agente da CIA.

Hal Holbrook em Into the Wild (9) Participação curta mas muito positiva deste veterano que aparece numa fase crucial da narrativa, ajudando bastante à qualidade do filme.

Tom Wilkinson em Michael Clayton (7) Boa prestação, nomeação merecida pela interpretação de um advogado com “ligeiros” problemas psicológicos. Não me admirava nada que fosse ele o vencedor do Oscar.

Best Performance by an Actress in a Supporting Role

A minha escolha

Ruby Dee em American Gangster (8)

Mais uma veterana. Sinceramente, não conhecia esta senhora mas fiquei fã depois de a ver em American Gangster, onde entra como “mãe” de Denzel Washington. No filme, representa a voz da razão e está exposta a algumas situações de grande tensão. Interpretação sem falhas e que considero ser merecedora do Oscar.

As (restantes) nomeadas

Cate Blanchett em I’m Not There (-)Não vi.

Saoirse Ronan em Atonement (9)Mais uma jovem estrela que vou acompanhar com muita atenção. Na parte inicial (e crucial) do filme é ela que representa a protagonista, que é posta à prova em algumas cenas muito fortes incluindo um interrogatório. Nomeação mais do que merecida num dos destaques deste ano ao nível dos actores.

Amy Ryan em Gone Baby Gone (8)A minha segunda preferida dado que esteve brilhante ao interpretar uma mãe viciada em cocaína e cuja filha foi raptada. A evolução da personagem ao longo do filme (que também recomendo) é muito interessante de acompanhar e também muito por culpa da qualidade desta actriz.

Tilda Swinton em Michael Clayton (7)Realmente o elenco de Michael Clayton é o melhor do filme. Esta foi uma grande prestação e acredito que tenha boas possibilidades de levar a estatueta dourada para casa.

Best Achievement in Directing

A minha escolha

Paul Thomas Anderson por There Will Be Blood (10)

Excelente em Magnolia, ainda melhor em There Will Be Blood. Paul Thomas Anderson coloca-se como um dos meus realizadores preferidos e com este filme roçou a perfeição, recheando-o de momentos memoráveis conseguindo tornar realidade da melhor forma possível e com um ambiente extraordinário, as cenas que ele próprio idealizou.

Os (restantes) nomeados

Ethan Coen e Joel Coen por No Country for Old Men (9)Acredito que sejam eles os vencedores e com muito mérito. Mais um trabalho de realização impecável com cenas magnificas (conquistou-me logo desde cedo com os múltiplos planos longos feitos em de e em direcção à colina onde o protagonista estaciona o seu veículo).

Tony Gilroy por Michael Clayton (7)Boa realização. Admito que seja merecida a nomeação, embora acredite que no seu lugar também podiam estar outros nomes.

Jason Reitman por Juno (10)Tornou realidade de uma forma muito eficaz o magnífico argumento de Diablo Cody. Nomeação merecida e que penso não merecer muita discussão.

Julian Schnabel por Le Scaphandre et le Papillon (9)Um dos muitos pontos fortes deste filme é sem dúvida a realização. Em grande parte do tempo, vemos o filme através do olho do protagonista, ilusão que está muito bem conseguida e que adiciona muito à excelente experiência que é ver este filme.

Best Writing, Screenplay Written Directly for the Screen

A minha escolha

Juno (10) por Diablo Cody

Para começar digo que me agrada constatar que, finalmente, os filmes independentes estão a ser levados a sério e considerados para os grandes prémios.

Se leram o que escrevi acima já devem suspeitar que eu fiquei completamente apaixonado por este argumento. Como muita gente nunca tinha ouvido falar de Diablo Cody (29 anos, natural de Chicago), mas, a partir de agora, de certeza que acompanharei os seus projectos futuros.

A história de Juno é excelente e a interacção entre as personagens proporciona momentos fantásticos. Contem com vários one-liners desferidos frequentemente e muitos diálogos memoráveis. Não hesito em afirmar que se trata de um dos melhores argumentos que tive a oportunidade de conhecer.

O injustiçado

Reign Over Me (9) por Mike BinderHistória comovente e com muito bons diálogos. Merecia ser nomeada, em vez de Michael Clayton, por exemplo.

Os (restantes) nomeados

Lars and the Real Girl (8) por Nancy OliverFilme bastante interessante, quase desconhecido em Portugal mas que conta uma história de um homem cuja solidão levou a um problema psicológico, em que considera que uma boneca é a sua namorada. Toda a comunidade da sua vizinhança acaba por embarcar nesta crença, por solidariedade e na tentativa de que Lars consiga ultrapassar o seu problema. Há momentos muito bons, vários diálogos e apesar de a nomeação me ter surpreendido, considero-a completamente merecida.

Michael Clayton (7) por Tony Gilroy Não concordo com esta nomeação. Na minha opinião o argumento foi, de facto, o pior elemento deste filme. Não sendo mau, não tenho nada que se destaque, não há nenhuma surpresa. Alguns bons diálogos mas, de uma forma geral, deixa muito a desejar, limitando-se a contar a história de uma forma bastante linear e previsível.

Ratatouille (9) por Brad Bird, Jan Pinkava, Jim Capobianco – Nomeação completamente merecida. Raramente encontramos argumentos tão bem construídos e desenhados num filme com um público-alvo tão jovem. Falarei mais do filme mais adiante, quando abordar a categoria correspondente aos filmes de animação.

The Savages (-) por Tamara Jenkins – Não vi.

Menção Honrosa

Knocked Up (8) por Judd Apatow Excelente comédia, muito bem escrita. Mais um grande argumento pelo autor de 40 Year Old Virgin

Best Writing, Screenplay Based on Material Previously Produced or Published

A minha escolha

There Will Be Blood (10) por Paul Thomas Anderson

There Will Be Blood está nesta categoria porque é muito levemente baseado num livro intitulado “Oil!” (de Upton Sinclair). Merece claramente o Oscar porque a forma como Paul Thomas Anderson interpretou aquela época histórica e como criou um homem de negócios tão carismático como Daniel Plainview. O filme está repleto de belos diálogos e a história é apresentada de uma maneira clara e eficaz, através da segmentação por datas, sendo que cada segmento representa, efectivamente um capítulo da história, desde o início do “império” até ao seu “fim” (para os que viram o filme, recordo a última fala do protagonista).

O injustiçado

Into the Wild (9) por Sean Penn – Feita por Sean Penn esta é uma adaptação imaculada do livro com o mesmo nome de Jon Krakauer. Sem dúvida que merecia a nomeação, talvez por troca com Away From Her.

Os (restantes) nomeados

Atonement (9) por Christopher HamptonAdaptação bastante directa do livro com o mesmo nome, da autoria de Ian McEwan. Merece a nomeação e é o meu segundo favorito nesta corrida.

Away From Her (8) por Sarah Polley É baseado numa short story de Alice Munro, intitulada “The Bear Came Over the Mountain”. Gostei do filme, mas, quando acabou, fiquei com a sensação de que o argument podia ir muito mais além, explorando muito melhor as personagens que foram criadas. Por esta razão, penso que a nomeação não é merecida.

Le Scaphandre et le Papillon (9) por Ronald Harwood Como já falei acima, este filme é baseado no livro com o mesmo nome, escrito pelo ex-editor da Elle que ficou prisioneiro do seu corpo depois de um AVC. O argumento é de facto muito bom e serve como suporte para um dos melhores filmes do ano. Nomeação completamente merecida.

No Country for Old Men (9) por Joel Coen e Ethan Coen É uma adaptação bastante fiel ao livro com o mesmo nome e da autoria de Cormac McCarthy. É argumento de grande qualidade e muito eficaz a atingir os objectivos a que se propunha (transportar a história do livro para o grande ecrã).

Menção Honrosa

Zodiac (8) por James Vanderbilt Um bom filme que saiu no início do ano passado e que conta com um argumento excelente, baseado nos livros de Robert Graysmith acerca do assassino Zodiac.

Charlie Wilson’s War (8) por Aaron Sorkin Mais um bom filme adaptado pelo grande Aaron Sorkin, a partir do livro com o mesmo nome da autoria de George Crile que, por sua vez, é baseado na história verídica do congressista democrata norte-americano Charlie Wilson.

Best Animated Feature Film of the Year

A minha escolha

Persepolis (9)

Este foi o último filme que vi antes da cerimónia de hoje à noite. Surpreendeu-me imenso e é um dos melhores filmes de animação que já tive a oportunidade de ver. É uma obra auto-biográfica, da autoria de Marjane Satrapi (acompanhada por Vincent Paronnaud) e que nos mostra a história de uma menina que cresce durante a Revolução Iraniana, retratando as suas aventuras, bem como as convicções políticas e sociais que vão, naturalmente evoluindo ao longo da sua idade, também influenciadas pelas mudanças na situação política do Irão.

Bem realizado, com um bom trabalho de vozes e um excelente argumento, Persepolis é um grande filme que não deve ser perdido.

Os (restantes) nomeados

Ratatouille (9) A história de um rato que gostava de ser cozinheiro. Dito assim não parece nada de especial (era o que eu pensava, antes de o ver) mas este filme foi brilhantemente desenvolvido pela Pixar. Foi um grande sucesso de bilheteiras a nível mundial e é um dos melhores filmes de animação para crianças alguma vez feitos. Não fosse Persepolis, tinha o Oscar assegurado.

Surf’s Up (8) Bom filme, bastante divertido com uma história muito interessante e com grandes momentos de bom humor. É, portanto, uma nomeação completamente merecida.