E eis que chegou o momento porque muitos ansiavam: David Beckham chegou a LA. Entre outras coisas, o anúncio, feito em Janeiro (a menos de seis meses do final do contrato, tal como mandam as regras), da sua transferência para os Galaxy da Major League Soccer levou a que o internacional inglês estivesse vários meses sem jogar, com Fabio Capello a afirmar que, com ele ao comando da equipa, o número 23 não voltaria a entrar em campo.
As vicissitudes da época do Real Madrid e, sobretudo, a atitude de Beckham acabaram por obrigar o italiano a voltar com a palavra atrás, o que, por si só, constituiu uma grande surpresa. De qualquer forma, os blancos de Madrid acabaram por se sagrar campeões na última jornada do campeonato espanhol, tendo o contributo de David sido absolutamente crucial para a conquista desse troféu...
Depois disso, as férias. Enquanto a Europa do futebol com mais de 21 anos estava de férias, do outro lado do Atlântico a nova equipa de Beckham raramente ganhava, jornada após jornada. A espera pelo inglês revelou-se um factor de instabilidade no plantel de Frank Yallop, levando vários jogadores a pedir à nova estrela da equipa para encurtar as férias e vir mais cedo, para ajudar dentro de campo. Ao que parece, estando lesionado, o antigo red devil não pôde aceder ao pedido.
De qualquer maneira, há cerca de duas semanas, o casal Beckham lá chegou a Los Angeles, numa saída do aeroporto bem ao estilo de Hollywood. A histeria tem sido uma constante lá pelos lados do Home Depot Center, com cerca de 250 mil camisolas “23” vendidas ainda antes de o jogador pisar solo californiano. O ambiente eufórico estendeu-se ao jogo de estreia, no Domingo passado, frente ao Chelsea, com a presença de várias estrelas do cinema… entre as quais o Governador Schwarzenegger. David jogou apenas 10 minutos, ainda a contas com a lesão que já vem das últimas jornadas da liga espanhola, mas foi o suficiente para, cada vez que tocasse na bola, se sentisse uma energia impar, nunca antes verificada nos EUA, no decorrer de um jogo de futebol.
Talvez não tenha sido intencional mas David Robert Joseph Beckham é maior que o próprio desporto. Sendo o futebol a maior modalidade em termos de reconhecimento e número de adeptos a nível mundial, há algumas zonas em que continua a ter pouca importância. David Beckham é amplamente conhecido em todo o lado. Mesmo nos Estados Unidos, onde o desporto está em sexto ou sétimo lugar no top de preferências, David Beckham é um nome reconhecido e associado a uma cara por cerca de 50% da população, segundo uma sondagem efectuada recentemente.
A verdade é que, sendo um bom jogador, o número 7 inglês, está longe de ser dos melhores futebolistas da actualidade. Mesmo na MLS, jogadores como Landon Donovan ou Freddy Adu têm uma qualidade superior em termos médios. Costumo definir Beckham como o jogador perfeito parado: passes longos, cruzamentos e remates de longe com espaço e, claro, livres, são a sua especialidade, onde brilha como ninguém. O resto… é complicado. Embora tenha evoluído, David Beckham, apresenta, por exemplo, várias falhas ao nível das movimentações em velocidade e drible, características essenciais para um jogador da sua posição.
Assim sendo… o que levou Beckham a construir esta carreira singular no mundo do desporto? Certamente, nem ele sabe. O seu estilo de vida acabou por ser um alvo apetecível dos tablóides britânicos, o fascínio por David foi crescendo, com o próprio a conseguir orientar e construir a sua imagem de uma maneira que lhe permite, aos 32 anos, assinar um contrato de cinco anos que lhe poderá vir a valer qualquer coisa como 250 milhões de dólares e, depois disso, se assim o desejar, tentar manter o seu o seu reconhecimento à escala global para continuar a facturar.
Por tudo isto, mesmo que os seus planos iniciais não tenham sido estes, há que dar o devido mérito a David Beckham, um homem que, dentro e (principalmente) fora do campo, tem dado muito ao futebol, preparando-se para continuar a fazê-lo, pois acredito que conseguirá catapultar o soccer para a linha da frente dos desportos norte-americanos, um passo importante para reforçar o estatuto de desporto-rei à escala mundial.
